
Foto de Cadu num fundo azul claro. Ele é um homem careca, tem barba, está sorrindo e usa uma camisa de mangas longas e detalhes coloridos nas laterais. No canto superior direito, a logo do projeto.
Sou o Cadu Barros, sou psicólogo e militante da causa LGBTQIA+
Fico feliz que em setembro se dê um foco maior a saúde mental por conta do movimento setembro amarelo, mas vale lembrar que as pessoas estão suscetíveis a precisar de apoio psicológico o ano todo! E quando a gente traz pra comunidade LGBTQIA+ esse é um assunto importante pois muitos jovens podem pensar em suicídio por conta da sexualidade e identidade de gênero, por não ter apoio familiar, principalmente em tempos de isolamento social no qual as pessoas estão tendo que conviver ainda mais com seus familiares. Neste sentido, colocando o recorte LGBTQIA+ na pandemia, temos uma particularidade em relação às demais minorias, pois nós muitas vezes estamos expostos a violência fora e quando voltamos pra casa, podemos encontrar um ambiente hostil. E como lidar com isso tudo né?!
Ao falar de LGBTQIA+ e deficiência, a primeira coisa que devemos lembrar enquanto profissionais da saúde é que cada pessoa é única e que existem interseccionalidades, uma pessoa pode ser LGBT, negra, ter deficiência tudo junto e merece que cada uma das partes que a compõe seja contemplada. Não dá pra olhar pra uma pessoa apenas como LGBT ou PCD. Os profissionais devem ter muito tato para não ir para um caminho de senso comum. E ainda dentro da intersecção, qual o local que é reservado para o LGBTQIA com deficiência? Sabemos que dentro da própria comunidade existe muito preconceito pois muitas pessoas tem uma visão capacitista de que é quase como se fosse um pecado se relacionar sexualmente com uma pessoa com deficiência, ignorando que essa pessoa não é reduzida a sua deficiência e que sim pode performar sexualidade, sensualidade e expressar seu gênero. As pessoas são mais que sua orientação sexual e sua deficiência e neste caso, o que mais me preocupa nas pessoas com deficiência é o quanto a sexualidade (homo ou hétero) lhes são deixadas em segundo plano, como se a deficiência anulasse todas as outras áreas da vida da pessoa, isso é uma visão muito capacitista e atrasada!
Quanto ao preparo dos profissionais para lidar com esse público, fico feliz em saber que muitas pessoas tem se preocupado em abranger as diversidades em seus atendimentos, mas a formação é bem deficitária, quem se preocupa com diversidade busca formações e caminhos alternativos para suprir essas demandas, mas por exemplo, o número de psicólogos habilitados para atender em libras é bem baixo, e não me excluo disso, por mais que faça esforços para adaptar meu conteúdo e deixar o mais acessível possível, ainda preciso avançar demais!
Uma maneira que na minha percepção funciona bem para desenvolver atendimentos cada vez abrangendo mais pessoas, é perguntar para o que elas precisam e dar mais aos que precisam de mais, trabalhar com equidade.
No meio desse cenário todo que estamos vivendo, várias alternativas também estão surgindo para quem quiser cuidar da saúde mental, existem profissionais que estão atendendo online a preço social, plataformas que estão disponibilizando psicoterapia breve de forma gratuita e uma alternativa muito interessante também são as faculdades que tem o curso de psicologia no qual futuros psicólogos atendem essas demandas. Muitas vezes devido ao problema que estamos passando, o primeiro passo é o mais difícil, por isso é importante darmos suporte a quem está perdido. A terapia não é a resposta para todas as mazelas, mas através de terapia a pessoa aprofunda o auto conhecimento, a terapia é como se fosse um quarto escuro e o terapeuta uma lanterna apenas, que até ajuda a iluminar, mas o caminho é percorrido por quem porta a lanterna. Então, quando nos conhecemos, sabemos o que é importante para nós, o que gostamos, não gostamos e quais são os nossos limites. Podemos não saber tudo do mundo, mas sabendo bastante de nós mesmos, com certeza já conseguimos nos guiar de forma mais confortável.
E para finalizar e avançarmos cada vez mais, é importante que cada pessoa saiba do seu local e do seus privilégios e que os usem para promover melhores condições para os que não os tem, pois a sociedade só avança quando todos avançamos! Reforço a necessidade de avaliar candidatos e candidatas que carreguem pautas representativas para as próximas eleições, afinal, saúde mental deve ser um debate de políticas públicas! Temos o desafio de desmistificar o mito de que certos assuntos não se debatem, pois é com base no diálogo que conseguimos levar informação e combater preconceitos.
É como eu sempre digo, não é só sobre que mundo você quer deixar, mas também sobre que mundo você quer construir a partir de agora.
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